Palestra no Espaço EducaTec Neves faz parte do ciclo formativo para facilitadores idealizado pelo IBGS.
Quem é Débora Rodrigues?
Mulher negra e quilombola, oriunda do Quilombo de Pinhões, e mãe de Daniel. É pesquisadora, educadora, mestre e doutoranda em Educação pela UFMG. Sua área de pesquisa abrange temas como quilombos, educação quilombola, ações afirmativas, políticas educacionais, diversidade étnico-racial e cultural, com foco na descolonização dos processos educativos e na produção de conhecimento científico por indígenas e quilombolas nas universidades brasileiras.
A pesquisadora Débora Rodrigues, graduada em comunicação social, traz uma reflexão poderosa sobre como os saberes dos estudantes fortalecem a aplicabilidade das Leis 10.639/03 e 11.645/08. Durante a roda de conversa com os facilitadores do Espaço Educatec, a palestrante destacou como a inclusão da história e cultura desses povos nos currículos escolares é essencial para o reconhecimento e a celebração das contribuições africanas e indígenas na formação da sociedade brasileira. Ao integrar essas práticas no dia a dia escolar, os estudantes não apenas aprendem a história, mas também se tornam protagonistas na preservação e valorização de suas raízes.
“Apesar dos esforços em promover espaços educacionais, nos deparamos com desigualdades sociais, de acesso e de qualidade. Por isso, entender a educação como direito fundamental das pessoas permite buscar melhorias para que de fato todos tenham acesso a um ensino de qualidade e com equidade.” Débora Nascimento
Débora compartilhou sua vivência no Quilombo de Pinhões, em Minas Gerais, onde o conhecimento ancestral e a cultura quilombola desempenham um papel central na educação das novas gerações. Através de atividades práticas, como rodas de capoeira, oficinas de instrumentos e intercâmbios culturais, os alunos não apenas aprendem sobre suas raízes, mas também desenvolvem um profundo orgulho de sua identidade e herança.
Ela destaca que a implementação dessas leis nas escolas não é apenas uma questão legal, mas uma ferramenta crucial para promover o reconhecimento e os bens históricos. É fundamental discutir raça, racismo e inclusão nas salas de aula, de forma que os alunos entendam o valor das contribuições dos povos africanos e indígenas para a formação do Brasil.
A Redenção de Cam: Uma Reflexão Crítica sobre o Mito do "Branqueamento" no Brasil
Durante a palestra Débora falou um pouco sobre o quadro Redenção de Cam, para fazer uma contextualização dos temas abordados. A pintura "Redenção de Cam", de Modesto Brocos, de 1895, inspira-se no texto bíblico de Gênesis 9:20-27, onde Noé amaldiçoou Cam, seu filho, a ser servo de seus irmãos. Essa obra reflete a ideologia do "branqueamento", popular no Brasil no final do século XIX, que defende a mistura racial como uma forma de "redenção étnica". Segundo essa visão, casar-se com pessoas de pele mais clara seria o caminho para o embranquecimento das futuras gerações e, assim, uma suposta elevação social.
Na pintura, uma mulher negra é retratada ao lado de sua filha mais clara e seu neto branco, representando o progresso racial através das gerações. Essa ideia reforçava a crença de que o branqueamento era uma solução para integrar o Brasil ao ideal europeu, negando o valor e a identidade das populações negras e indígenas.
Hoje, "A Redenção de Cam" é vista como um símbolo da opressão racial da época, revelando como o mito da superioridade branca foi usado para desculpar o racismo. Analisar essa obra é crucial para entendermos o impacto que essas ideias têm na construção do racismo no Brasil, e como elas ainda influenciam a sociedade.
As palavras de Débora Rodrigues Azevedo nos lembram da importância de uma educação que vai além dos livros e das teorias, integrando as experiências e saberes das comunidades afro-brasileiras e indígenas. As Leis 10.639/03 e 11.645/08 representam uma conquista histórica, mas é no cotidiano das escolas, como no Quilombo de Pinhões, que vemos a verdadeira transformação acontecer.
Promover a inclusão dessas histórias e culturas no currículo escolar não é apenas uma questão de justiça histórica, mas também uma forma de construir um futuro mais igualitário e consciente. Que o exemplo de Débora e dos estudantes quilombolas inspire outros educadores a seguir por esse caminho de respeito, reconhecimento e celebração da diversidade.
Leis 10.639/03 e 11.645/08
As leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Elas alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -LDB, para incluir a obrigatoriedade das temáticas História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, respectivamente.
ESPAÇO EDUCATEC NEVES
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